GILFRANCISCO: jornalista, professor
universitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e do
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e Diretor de Imprensa da Associação
Sergipana de Imprensa. gilfrancisco.santos@gmail.com
Billy Blanco é juntamente com Dick
Farney, Lucio Alves, Dolores Duran e outros um dos precursores da Bossa Nova,
chegando também a ser um participante da mesma quando de suas parcerias com Tom
Jobim e Baden Powell para citar alguns. Lembro-me do carinho com que corrigia
minhas letras, eu ainda iniciante, em meados dos anos 50. Billy é não só um dos
maiores letristas da música popular brasileira como também melodista e sambista
muito fino. Até hoje me deve uma letra.
Carlos
Lyra
Conheci
Billy em dezembro de 1976 em casa do poeta e compositor Ildásio Tavares
(1940-2011) de quem secretariei por algum tempo. Sujeito de temperamento
difícil, explosivo, depressivo, não conseguia conservar amizades por longo
tempo, por isso estava sempre só ou em grupo aprontado com suas farpas. Billy
uma figura finíssima, elegância, fala mansa, gestos finos, jeito de malandro
carioca, não o malandro do morro, mas do asfalto, daqueles que freqüenta escola
de bacana, de grã fino. Billy tinha um bom papo, conhecia bem as coisas da
Bahia e ela está presente em seus sambas-afros e eu que já o admirava desde os
tempos de Dolores Duran cantora e compositora que deixou uma obra de influência
marcante para a MPB, sem dúvida a melhor intérprete das suas canções. Mesmo com
uma voz pequena, Billy canta admiravelmente bem. Canta as coisas mais simples
do cotidiano, por isso faz parte da própria história e cultura do nosso país.
A casa da praia de Ildásio Tavares ficava
próximo ao Farol de Itapoã, quase enfrente a de Vinicius de Moraes, por isso
estávamos sempre visitando a Gesse e o poetinha. Era uma casa muito
movimentada, com dezenas de convidados nos finais de semana. Fui reencontrar
Billy em 31 de outubro de 2008 na Academia Brasileira de Letras (Rio de
Janeiro), quando recebi o Prêmio Veríssimo de Mello, na categoria Pesquisa e
Biobibliografia, pela União Brasileira de Escritores – UBE, com o livro Musa Capenga, poemas de
Edison Carneiro. Presentes ao evento vários amigos, Ledo Ivo, Gilberto
Mendonça Telles, Telênia Hill, entre outros convidados.
Como eu
já havia marcado uma entrevista com Ferreira Gullar pela manhã em sua
residência e na parte da tarde tinha compromisso agendado com Gilberto Mendonça
Telles, aproveitei a oportunidade e iniciei a conversa com Billy ali mesmo, num
cantinho sossegado da Casa centenária de Machado de Assis, mas fomos
interrompidos por sua sobrinha, que o acompanhava e justificou que ele teria
que viajar à noite. Sem alternativa, aceitei o argumento e ficamos de combinar
em outra ocasião.
Reconhecimento
William
Blanco Abrunhosa Trindade nasceu em 8 de maio de 1924 em Belém (PA), desde os
dez anos escreve poesia. Decidiu estudar arquitetura em São Paulo, em 1946,
onde iniciou sua carreira de compositor. Dois anos depois se muda para o Rio de
Janeiro, onde forma-se em 1950 e sua carreira ganhou novo impulso e viveu 65
dos seus 88 anos, firmando-se como cronista-sambista. Billy sempre gostou de
tocar e compor, mas nos 50, já morando no Rio, que se destacou por seus sambas
e letras, tornando-se um dos precursores da bossa nova. Freqüentando o meio musical,
conhece Dolores Duran que o apresentou a Lúcio Alves, Dick Farney, Silvio
Caldas, Isaura Garcia, Elizete Cardoso. Billy compôs para Dolores, sua mulher,
várias canções que fizeram sucessos na época, como Estatuto de Boite; Pano
Legal; Camelot; Feiúra não é nada, Viva meu samba e outros
Foi nesta época que gravou suas primeiras
músicas, surpreendendo por seu estilo de samba sincopado, teve como seu
primeiro sucesso, Estatutos da Gafieira, gravado por Inezita Barroso em 1954 e
regravado por vários cantores. Entre seus sucessos estão: Tereza da praia; O
morro; Mocinho bonito; Viva meu samba; Pra viver; Sinfonia paulista; Sinfonia
do Rio de Janeiro. Billy Blanco compôs mais de 500 canções, algumas gravadas
por cantores como João Gilberto, Elis Regina, Dick Farney, Lúcio Alves, Nora
Ney e Dolores Duran. Billy também fez parcerias com grandes nomes da MPB, Tom
Jobim, Baden Powel, Sebastião Tapajós, entre outros.
Morte
O cantor
e compositor Billy Blanco morreu na manhã do dia 8 de julho de 2011 as 7 h, aos 87 anos no Rio
de Janeiro, vítima de parada cardíaca. Um dos nomes mais importantes da Bossa
Nova, ele estava internado na UTI devido a um AVC desde 02 de outubro de 2010
no Hospital Pan-Americano, no bairro da Tijuca. Em 1995, o compositor já havia
sofrido um infarto. Billy seu neologismo está na moda, Sofrência (sofrer com
paciência),
o que dá
pra ri dá pra chorar
questão só de peso e medida...
Uma das
obras mais importantes de Blanco é a "Sinfonia Paulistana", série de
15 músicas em homenagem a São Paulo que levou dez anos para ficar pronta, em
1974. Em 1996 lançou o livro "Tirando de Letra e Música", uma
autobiografia que incluiu letras de suas músicas. Mas já se passaram 2 anos de
sua morte, apesar da sua contribuição a
MPB, mostrar presença em seus sambas a ironia e o bom humor carioca, muito ao
estilo do poeta da Vila, Noel Rosa, e ter sido o primeiro letrista de Baden
Pawell em Samba Triste (LP Baden Powell à vontade – Elenco, 1967), Billy continua ausente dos compêndios: Balanço da
Bossa e outras Bossas, Augusto de Campos (1974); Pequena História da Música
Popular, José Ramos Tinhorão (1974); Música Popular Brasileira, José Eduardo
Homem de Melo (1976); A Canção Brasileira
- erudita, folclórica, popular, Vasco Mariz (1977).
É velho
Billy, aquela nossa conversa interrompida em 2008 na Academia Brasileira de
Letras, por causa daquele maldito ou bendito vôo inexplicável, não teve
importância, qualquer dia desses continuaremos o papo, num desses botecos
celestial, com ou sem a presença daquele mocinho bonito, sem samba triste, mas o piston de gafieira é
indispensável, só pra lembrar os tempos da Estudantina.
Sauré!
Piston de Gafieira
Na gafieira
Segue o baile calmamente
Com muita gente dando volta no salão
Tudo vai bem
Mas, eis, porém que de repente
Um pé subiu
E alguém de cara foi ao chão
Não é que o Doca
Um crioulo comportado
Ficou tarado quando viu a Dagmar
Toda soltinha
Dentro de um vestido-saco
Tendo ao lado um cara fraco
E foi tirá-la pra dançar?
O moço era faixa preta, simplesmente
E fez o Doca rebolar sem bambolê
A porta fecha enquanto dura o vai-não-vai
Quem está fora não entra
Quem está dentro não sai
Mas a orquestra sempre toma providência
Tocando alto pra polícia não manjar
E nessa altura
Como parte da rotina
O piston tira a surdina
E põe as coisas no lugar
Segue o baile calmamente
Com muita gente dando volta no salão
Tudo vai bem
Mas, eis, porém que de repente
Um pé subiu
E alguém de cara foi ao chão
Não é que o Doca
Um crioulo comportado
Ficou tarado quando viu a Dagmar
Toda soltinha
Dentro de um vestido-saco
Tendo ao lado um cara fraco
E foi tirá-la pra dançar?
O moço era faixa preta, simplesmente
E fez o Doca rebolar sem bambolê
A porta fecha enquanto dura o vai-não-vai
Quem está fora não entra
Quem está dentro não sai
Mas a orquestra sempre toma providência
Tocando alto pra polícia não manjar
E nessa altura
Como parte da rotina
O piston tira a surdina
E põe as coisas no lugar
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