domingo, 7 de novembro de 2010

O REBELDE JOÃO CORDEIRO (1905-1938)

GILFRANCISCO: jornalista, professor da Faculdade São Luís de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. gilfrancisco.santos@gmail.com

João Cordeiro me faz recordar a fase mais interessante da minha vida. Nós éramos uns garotos e fazíamos, sob as ordens de Pinheiro Viegas, a parte de pasquim da literatura baiana. Tínhamos uma Academia dos Rebeldes, que amávamos apesar de todo o ridículo que a cobria. Tentamos fazer o saneamento intelectual da boa terra.

Jorge Amado


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Pertencente a Academia dos Rebeldes (1929-1931), tendo como companheiros Jorge Amado, Edison Carneiro, Dias da Costa, Sosígenes Costa, Da Costa Andrade, Alves Ribeiro, Pinheiro Viegas, Guilherme Dias Gomes, Walter da Silveira, José Bastos, Aydano do couto Ferraz e outros. A agremiação literária fundou duas revistas: Meridiano (1929) e O Momento. (1931-1932).

Nascido em Salvador a 2 de março de 1905, o romancista faleceu nesta mesma cidade a 7 de abril de 1938, era filho de João da Cruz Cordeiro e Maria Elvira de Castro Cordeiro. Em Salvador a família morava à Rua Nova de São Bento, 60 e tinha os seguintes irmãos: José, Aryval, Dyla e Ilza. Como membro da Academia dos Rebeldes, colaborou em vários periódicos: O Jornal, Etc., O Momento, Boletim de Ariel, entre outros.

A publicação de Corja, que deveria se chamar “Boca Suja” foi uma grande revelação nos meios intelectuais do país. Um romance que marcou uma afirmação de talento e independência espiritual, uma literatura fora dos preconceitos sociais e do pieguismo doentio da época. João de Castro Cordeiro escreveu um romance realista, dinâmico e livre, sem o carrancismo gramatical e as preocupações pronominais, em franca decadência da própria evolução da língua, que veio para marcar uma época.
Considerado um dos espíritos brilhantes da mocidade inteligente da Bahia, João Cordeiro inicia seu romance, descrevendo um grande incêndio no Terreiro de Jesus, onde numa fogueira enorme arde em montões de cinzas, a velha faculdade de Medicina. Enquanto este acontecimento abalava a população sobressaltada, no Campo Grande, uma pobre mulher, se estorcia de dores, num parto complicado. E Assim nascia, entre as chamas dos sofrimentos maternos, e as labaredas de um grande incêndio – Policarpo – esse grande herói, de João Cordeiro, o tipo do boêmio meio maluco, meio cínico e meio sentimental, como caracterizou Édison Carneiro.
O crítico Agripino Grieco se referindo à construção do livro diz: “O lado baiano do romance, com o aspecto popular de ruas e becos, noitadas boemias e cenas de tascas, soube o autor detê-lo em instantâneos vivazes, colhendo no vôo as notas típicas de algumas vidas prosaicas ou inquietas. Sente-se o pendor para desfigurar satiricamente as personagens da política ou do clero, que evidentemente detesta, mas a morte de Luciano, o noctâmbula que tem o nome do belo herói de Balzac, emociona os leitores, dando ao volume um bocado de poesia azul, que o Sr. João Cordeiro, envergonhado talvez dos seus cinco minutos de romantismo, se apressa em desfazer, pondo a amante do morto as velas com um sucesso imbecil”.
A sua vida de menino traquina, cheias de maldades inocentes e aventuras atrevidas, muito cedo perdeu seu pai, ficando a viúva numa pobreza franciscana. Na escola de dona Xandoca pintou o sete, sendo logo expulso por indisciplina. Internado no Liceu, como aluno gratuito, era obrigado a escolher um oficio, o que prontamente preferiu o de tipografia. Com um ano de Liceu suportou toda sorte de humilhação e sofrimentos, fugindo numa noite para casa de sua amante, “Minha Negra”.
Em seguida se matricula na escola do professor Posidônio Coelho, um dos mestres mais afamados do seu tempo, abandonando os seus antigos amigos, divertimentos para somente nos livros encontrar conforto. Essa nova etapa em sua vida duraria pouco tempo, pois ficou impossibilitado de continuar os estudos por questões financeiras, resolveu empregar-se como caixeiro da Livraria Carangugi. Com dinheiro no bolso, Policarpo se iniciava na realidade na vida, com uma estréia das mais desastradas. Mesmo com todos os seus sofrimentos, se julgando feliz, inicia-se com a amante nas farras e se envolvendo em escândalos e conseqüentemente na perda do emprego.
Aconselhado por seu tio, Dr. José Praxedes, seguiu para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar em seu escritório de advocacia. Na capital federal, após envolvimentos com outras mulheres, senti-se desiludido da vida, do mundo e das mulheres, restando-lhe retornar a velha Bahia, de coração arruinado e envelhecido. Tempos depois retoma a vida boêmia. Agora, na qualidade de funcionário público, somente comparecia a Repartição no fim do mês para receber os vencimentos. O livro termina com a regeneração completa de Policarpo (herói bem representado: mal educado, revoltado, pornográfico, pois seu nome em criança era Boca-suja), casado, feliz e já sem saudade da sua grande vida de boêmio.
Corja, publicado em 1934 no Rio de Janeiro pelo editor Galvino Filho com texto de apresentação de Jorge Amado é um romance de emoção, de grande fôlego, que segundo Édison Carneiro, “o seu romance terá um sentido marcadamente revolucionário. Em vez do Policarpo Praxedes palhaço da burguesia, teremos neste novo romance de João Cordeiro a visão exata, e por isso mesmo cruel, da humanidade que se definha nas salgadeiras, nos trapiches, nos armazém das docas, para pagar com o seu suor as amantes, as bebedeiras e os palácios dos capitalistas”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não encontro esse livro em lugar nenhum. Seja PDF ou outro formato. A versão física é, infelizmente, raríssima e inacessível pra mim. Uma pena.