Por solicitação do editor chefe do Caderno B (Variedades), da Tribuna da Bahia, Jolivaldo Freitas fui designado a escrever uma matéria de página sobre o poeta “Ildázio Tavares e a poesia da realidade”, publicada na edição de 7 de dezembro de 1987, ilustrada por seu amigo Caribé. A matéria tinha como enfoque a trajetória do poeta e seus novos projetos para a literatura baiana. Esta semana fui surpreendido com um e mail da professora e poeta baiana, Maria da Conceição Paranhos, que comunicava a morte do poeta irreverente.
Aos 70 anos, faleceu dia 31 no Hospital Jorge Valente, em Salvador, onde estava internado desde o dia 27 de outubro, vitima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ildázio Marques Tavares natural da Fazenda São Carlos, hoje cidade de Gongogi, região do cacau da Bahia, em 25 de janeiro de 1940. Filho de Eduardo Tavares e de Hilda Marques Tavares, mora em Ubatã até os 4 anos e de lá muda-se para Feira de Santana onde permanece até os nove anos, quando fixa definitivamente residência em Salvador. Na cidade de Tomé de Souza conclui sua educação primária e secundária, ingressando aos 18 anos na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, onde exerce suas primeiras atividades literárias, publicando artigos, contos e poemas em revistas e jornais acadêmicos local, de outros estados e do exterior, tendo poemas seus traduzidos para várias línguas
Em 1969 conclui o curso de Letras Vernáculas e língua estrangeira na UFBA, seguindo carreira como professor de Literatura, tendo feito o Mestrado na Southern Illinois University, o Doutorado na UFRJ e um Pós-Doutorado na Universidade de Lisboa. Foi tradutor e professor de inglês e literatura americana durante 19 anos. Ildázio viveu alguns anos fora do Brasil tendo sido professor visitante em universidades norte-americanas.
Somente um Canto (1968)
Imago (1972)
Ditado (1974)
O Canto do Homem Cotidiano (1977)
Poemas Seletos (1977)
Tapete do Tempo (1980)
A Ninfa (1993)
Odes brasileiras (1998)
Nove sonetos da Inconfidência (1999)
Flores do Caos, sonetos (2008)
Ao longo de sua trajetória, Ildázio Tavares recebeu uma série de prêmios e títulos por seu trabalho como tradutor, ensaísta e poeta. Foi o autor da ópera afro-brasileira “Lídia de Oxum”, com música do maestro Lindembergue Cardoso, levada às margens da Lagoa do Abaeté, em Salvador, para um público de cerca de 30 mil expectadores.
Letra Ildázio Tavares
Música: Gerônimo
Intérprete: Maria Bethânia (CD Brasileiro)
Sem folha não tem sonho
Sem folha não tem vida
Sem folha não tem nada
Quem é você e o que faz por aqui
Eu guardo a luz das estrelas
A alma de cada folha
Sou aroni
Cosi euê
Cosi orixá
Euê ô
Euê ô orixá
Sem folha não tem sonho
Sem folha não tem festa
Sem folha não tem vida
Sem folha não tem nada
Eu guardo a luz das estrelas
A alma de cada folha
Sou aroni
Fortuna Crítica
Seus versos, que eu sei e percebo trabalhados minuciosamente, são, não obstante o seu apuro técnico, tão maravilhosamente simples, que parecem, em muitos casos, recolhidos de um cancioneiro popular. A sátira – excelente – é conduzida com maestria e imaginação e, realmente acho que você fez um belo e duradouro livro sobre a grande batalha do dia a dia. Como lhe disse pessoalmente, os beletristas não vão gostar, se bem que naturalmente, eu não esteja com isso querendo chamar todos os que não gostarem de beletristas.
João Ubaldo Ribeiro
Sobre o livro O Canto do Homem Cotidiano, 1977
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Nélson Werneck Sodré
Sobre o livro Ditado, 1974
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Ildázio Tavares, poeta, contista, ensaísta, compositor, não é um estreante nem uma promessa, seu nome já se fez conhecido e transpôs os limites estaduais há bastante tempo. Por outro lado, sua presença no meio intelectual baiano é permanentemente catalítica: Ildázio está presente e atuante nos diversos setores da jovem cultura que ali nasce e se afirma – não se deve esquecer, para citar apenas um exemplo, sua ligação com a dupla de compositores Antonio Carlos e Jocafi,sendo co-autor, letrista de várias das composições dos moços de tanto sucesso.
Jorge Amado
Posfácio do livro Ditado, 1974
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Num de seus versos, ele diz: “Há pedaços de minha vida em toda parte”. Neste papo, tentou-se recolher, através de sua palavra, esses instantes, pedaços de seu agora e do seu ontem. A infância sim, o menino a olhar para um catavento colorido, solto nas ruas de Feira de Santana, fantasiado de pierrô, lança-perfume à mão e nos olhos dos passantes, Rodouro do Brasil segundo era de bom tom. Já não se faz micaretas como antigamente. A trajetória do poeta, do letrista de música popular, do autor teatral, enfim do romancista. E do homem. Seu tempo de procuras e descobertas. Um olhar sobre o passado, um guardado gesto de rebeldia, uma reflexão: 1968 vai fazer 20 anos. Já não é tão jovem pra medir conseqüências. Mas abre o coração.
Guido Guerra
Entrevista ****
Ildázio Tavares é um inventor, um catalisador de imagens, um mestre que faz com que a explosão poética nasça de seu ar de conversa e seu ar de silêncio, pois percebeu “de sol em sol, que a luz é fosca”. E vem esse êxtase, este levantar da palavra no redemoinho mágico dos períodos-versos, entre elos que estremecem. O percurso é o da fala descontraída, monologadora, para a linguagem. O que desencadeia esse elo explosivo ora é uma pergunta, ora uma resposta, ora uma centelha rodeada de coisas-infância, ora debruçar-se sobre a própria criação, ou certo pavio atiçado na pólvora da realidade.
Carlos Nejar
Sobre o livro Odes Brasileiras 1998
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