GILFRANCISCO, jornalista, professor universitário e membro do IHGSE e IGHBA. gilfrancisco.santos@gmail.com
Macchu Picchu, um paraíso perdido
Estive por três vezes
Um dia após a chegada consegui passagem aérea através da TAB – Transportes Aéreo Boliviano, possuidora de uma frota de velhas aeronaves da Segunda Guerra, adaptadas para a aviação comercial. Por Esse motivo os preços das passagens são acessíveis a classe popular em relação à concorrente LAB - Linhas Aéreas Bolivianas. Um vôo impressionante sobre as Cordilheiras dos Andes. A aeronave chacoalha o tempo todo. Minha poltrona ficava na asa, mas deu para fazer algumas fotos com a velha Kodak caseira. De repente lembrei-me do desastre aéreo ocorrido em outubro de 1972 com um avião bimotor Focker-27, um turboélice (modelo idêntico ao que eu estava) da Força Aérea Uruguaia que levava um time de rugby do Cluber Old Christian Brothers e caiu na Cordilheira dos Andes, no lado Argentino. É aquela partida em Santiago do Chile nunca se realizou. Das 45 pessoas que estava no avião, entre tripulação e passageiros, sobreviveram apenas 16.
É desta época meu segundo encontro com o romancista peruano, aprista (partidário da Aliança Popular Revolucionária Americana) Mario Vargas Llosa, quando estive em sua residência no moderno e luxuoso bairro de Miraflores,
Terceira visita
A terceira viagem a Machu Picchu (dezembro, 1985) foi planejada em Havana, quando retornávamos juntamente com os jornalistas Guido Araújo e Zoraide Vilas-Boas e o saudoso cineclubista Luiz Orlando (falecido), após participamos do VIII Festival Internacional Del Nuevo Cine Latinoamericano la habana.
Após permanecermos por dois dias em Lima, deixamos o Aeroporto Internacional Jorge Chávez, no Aero Peru, com destino a Cuzco com escala em duas outras cidades. Na época o Sandero Laminoso, movimento revolucionário peruano, liderado por Abimael Guzmán, de tendência marxista, fundado em 1970, empregava a tática de guerrilha, com freqüência cometiam atentados a bomba nos trens que ligam Cuzco a Machu Picchu. Esse era um dos motivos que nos assustavam.
Chegamos a Cuzco pela manhã. Do aeroporto seguimos diretamente ao Hotel. Guido não estava nada bem. A todo instante me perguntava já tomei o remédio? – Fique atento com o horário. Você tem que cuidar de mim, não me deixe só. Eram quatro comprimidos: um para pressão, dois para o coração e um para os rins, pois tinha crise de cálculo renal. Tomamos chá de coca e descansamos, para viajarmos no dia seguinte com destino a Machu Picchu. Sim, o remédio, é o chá de coca, necessidade vital para a população andina. A tradição secular do consumo das folhas de coca – mascadas ou aproveitadas em chá – é um constante desafio ao combate à produção e tráfico de cocaína, já que esta planta, matéria-prima para a fabricação da droga, é cultivada em larga escala.
Na parte da tarde visitamos o Convento de São Domingos e alguns museus de arqueologia e de arte religiosa, além da Igreja da Compañía (1651-1668) com sua fachada barroca, situada na Plaza de
Enquanto Guido e Luiz Orlando permaneciam bisbilhotando a arqueologia de Machu Picchu eu e Zoraide, juntamente com um guia local, seguimos para Huayna Picchu, montanha (mais alta que Machu Picchu, medindo mais de três mil metros), em torno da qual o rio Urubamba segue seu curso. Levamos mais de duas horas para atingirmos o pico da montanha. Uma subida de difícil acesso, exaustiva, com várias partes escorregadiças e protegidas por cabo de aço, obrigando ao visitante cautela ao andar pelas trilhas, algumas se encontrava interditadas. Do topo vê-se uma beleza extraordinária, visão mágica deslumbrante, você é invadido por um sentimento místico, e não consegue sentir os dentes, o frio cortante parece coagular seu sangue, a falta de ar, uma vontade de morrer ou voar entre as nuvens qual condor. A rarefação do ar nas elevadas altitudes dos Andes pode provocar o soroche – mal-estar de montanha (uma sensação de tortura, calafrios e dor de cabeça).
Hoje chegando aos 60 anos não faria novamente essa caminhada. É tão perigosa, que durante a estação chuvosa, os passeios são fechados. Do cume da montanha a visão que você tem do vale é estarrecedora, impressionante e assustadora. De acordo com o jovem guia Pablito, no topo era residência do sumo sacerdote. Não vi espaço suficientemente para existência de um palácio. Bem próximo ao pico existe uma grande rocha, esculpida no centro, que malmente passa um homem de estatura média.
Cuzco, a capital do império
A cidade de Cuzco era o coração e o centro exato do império. Ao norte ficava a região do Chinchaysuyo (hoje Equador e parte superior do Peru), a oeste o Condesuyo (regiões costeiras), ao sul o Collausuyo (área dos altiplanos da Bolívia e Peru) e a leste o Antisuyo (a região da selva amazônica). Cuzco está num local privilegiado, no início de um desses vales (rio Vilcanota) a
Para se conhecer Machu Picchu é preciso ir à cidade de Cuzco, capital do departamento do mesmo nome, centro da cultura andina no Peru. Quem visita Cuzco pode observar em meio aos prédios da época colonial restos das construções incas: palácios, templos, muralhas de granito, vias pavimentadas. Quase todas as construções, especialmente na área central, foram erguidas sobre fundações feitas pelos incas. Chamam à atenção notável a forma pela qual os incas talhavam e poliam os imensos blocos de pedras usados nas suas construções.
Há quem prefere mergulhar nos mistérios que as montanhas escondem ao percorrer a trilha de pedras justapostas que interliga as ruínas das antigas cidades. Ao final da jornada surge à maravilhosa e imponente Machu Picchu, que guarda os segredos perdidos da impressionante civilização Inca. É possível concluí-la em três dias e necessitará de uma preparação física para percorrer os quase
Os Incas adoravam o deus Sol (Inti) e a ele dedicavam festas, rituais e templos que se espalhavam por todo o império. O Sol, deus bom e generoso, casado com a Lua (Killa), era considerado pelos incas como o pai da raça. Todos os soberanos incas eram tidos como representantes de Inti na terra, com exceção de Huayna Cápac, tratado como personificação do próprio deus. Embora o culto a Inti tenha feito dele o deus oficial e unificador de todo o império, os incas adoravam também outras divindades, algumas próprias e outras pertencentes a povos conquistados.
Machu Picchu
Construída planejadamente de acordo com sua organização social, a cidade foi dividida em vários setores, com o bairro industrial, onde funcionava a indústria metalúrgica, o bairro intelectual; e o bairro agrícola, com os seus terraços para agricultura, imensos andares em forma de degraus onde os habitantes cultivam milho e batata entre outros.
Machu Picchu é a maior atração turística do Peru. Trata-se de uma cidade do antigo império Inca, erguida sobre o vale do rio Urubamba a cerca de
Ainda hoje se discute se a capital religiosa, fortaleza ou centro residencial. As construções demonstram concepções especiais arrojadas e técnicas avançadas de cantaria, com que os incas ficaram famosos como arquitetos. A severidade e a imponência dessa arquitetura parece refletir o caráter guerreiro desse povo. O que se sabe, comprovadamente, a respeito do surgimento dos incas, é que no século XIII eles já habitavam os férteis vales perto de Cuzco, que mais tarde viria a ser a capital do império. Era um grupo dominado por outros povos da região. Com o tempo, porém, graças à sua habilidade militar e à sua organização, os incas acabaram se impondo. São muitos os mistérios que ainda cercam a história desta cidade. Sabe-se que no século XVI foi refúgio da resistência indígena contra a conquista espanhola, depois que Cuzco – a capital do Tahuantinsuyo, como era chamada o Estado Inca – caiu em poder dos conquistadores.
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