segunda-feira, 5 de julho de 2010

JOÃO RIBEIRO E O 8 DE JULHO

GILFRANCISCO: jornalista, professor da Faculdade São Luís de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. gilfrancisco.santos@gmail.com




Pela Lei nº 17, de 9 de fevereiro de 1839 da Assembléia Provincial de Sergipe, foi decretado feriado o dia 24 de outubro. Esta data, porém, segundo Mondim Pestana e Lima Júnior, não tem historicidade. Em 1920, João Ribeiro retoma o ponto de vista de ambos e nega a historicidade do 24 de outubro. O Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe – IHGS protestou, chamando-o de “besta do apocalipse” e dirigiu-lhe um protesto através de ofício, encaminhado ao mesmo, que lhe custou à exclusão do quadro de sócio do IHGS e conseqüentemente a cassação do título. Ao recebê-lo, com bom humor, imediatamente escreve uma palinódia, publicada na seção “dia sim, dia não” do Jornal do Brasil em 25 de julho de 1926:

“Tupã, Caramuru

Chegou a divindade de longe, Deus ignotus, propício à gentilidade cabocla.
Esse deus, com um bacamarte de pederneira apanhado nos desvãos do Catete, e com um barril de pólvora escapou ao naufrágio, é bem o Júpiter mandado à fábula coaxante das rãs, sequiosas de um rei novo.
Se lhes faltar algum papel para a bucha dos foguetes e das girândolas festivas, cá está o ofício do Instituto, que recambiarei patrioticamente para maior Lustre das festas da minha santa e amada terrinha.
Eu sei que há virtudes excelsas, como sejam o patriotismo e outros males sergipanos. Sei igualmente que Cyro de Azevedo não merece os doestos que vão atribuir à minha pena, que antes rabiscaria elogios ao homem, ao cidadão, ao intelectual e ao artista.
Não lamento os seus propósitos de salvar a pátria do bom General Lobo, celebrado injustamente por certos aspectos artméticos da sua popularidade.
Lamento só o Instituto Histórico, que teve língua solta para me xingar e agora está entalado, engasgadíssimo com o bacamarte soberano.
Eu também (desculpem a modéstia) pertenço a vários e grandes Institutos, ao do Rio, ao de São Paulo, e ao do Ceará; esperava juntar a esses diplomas medíocres o do Instituto de Sergipe.
Perdir, porém, a partida e confesso-me entristecido.
Meu admirável Instituto do Cotinguiba não lasque mais protestos nem papel com ofícios.
Coma sossegado engula com paciência, mas não vomite na praça pública.
Não é assim que se escreve a história nem a geografia”.
O poeta baiano Gregório de Mattos (1636 1696), satirizou no soneto Aos Caramurus da Baía, os brasileiros (brancos) que se diziam descendentes de tupi. Zombava, assim, não só da fidalguia nascente que se orgulhava das origens nativas, como da própria linguagem, eivada de termos túpicos. É provável que João Ribeiro, leitor do boca do inferno, fosse buscar nos seus versos satíricos de Gregório uma resposta para os intelectuais sergipanos.
Alguns sergipanos, afirmava na época, que João Ribeiro não amava a sua terra natal, talvez por ele nunca voltar a Sergipe, pois saíra em 1881 para estudar medicina na Bahia, mas logo percebendo não ser a sua vocação, abandona o curso e muda-se para o Rio de Janeiro, com o propósito de matricular-se na Escola Politécnica. Desistindo de ser engenheiro, dedica-se ao jornalismo, em que logo se destaca. Não é verdade que não amasse torrãozinho. Sobre Sergipe ele publicou no Jornal do Brasil em sua edição de 24 de outubro de 1925, o seguinte:

“Sergipe é a minha terra e que bela terra! Canaviais verdes e extensos que aveludam os campos, igrejinhas brancas e sonoras, rios lentos e céu sempre azul!
É um paraíso. O grosso daquela gente compõe-se de lazarones contemplativos que não conhecem as grandes tristezas da vida civilizada. Fazem as suas casas pelo método bolchevista do muxirão: uns trazem as palmas para o teto, outros o barro e outros as varas de camboatá.
Está à casa feita. O Sergipano ali se aloja com mulher e filhos; através da palhoça feliz há umas bananeiras e a árvore derramada do cajueiro; por ali por perto formigam os caranguejos, alimento fosfórico, salutar e formidável aos deleites da procriação.
Nada de tudo isto custa um vintém.
Entretanto, o sergipano trabalha algumas vezes na intermitência das safras e ganha uns dinheiros supérfluos para certos luxos indispensáveis: primas e bordões de vida e alguns metros de chita e de madrasto”.

Portanto, o 24 de outubro que depois de 1930, com a implantação da Ditadura no Brasil, tornando-se realmente histórica para a nação, fez com que João Ribeiro exclamasse: Qual! Meus conterrâneos são mesmo profetas!
Durante as comemorações do Primeiro Centenário da Emancipação Política de Sergipe, o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, em Ato de 16 de abril de 1919, resultado da reunião da Comissão Executiva do Centenário, resolve publicar o nº9 (Especial) da Revista do IHGS, com colaborações de: Manoel Caldas Barreto Netto, Costa Filho, Armindo Guaraná, Prado Sampaio, Francisco A. de Carvalho Lima Júnior, Hermenegildo Leão e outros; com lançamento prevista para 8 de julho de 1920. Já o Presidente do Estado de Sergipe, Coronel Pereira Lobo “justificou a razão de seu pensar relativamente à data em que devem ser celebradas as festas do Centenário – 24 de outubro, em lugar de 8 de julho de 1820”. Por este motivo o Estado de Sergipe comemorou a passagem dessa memorável data em 24 de outubro. Ver artigo Primeiro Centenário da Emancipação Política de Sergipe, publicado no blog www.cinformonline.com.br (Gilfrancisco)

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