terça-feira, 17 de abril de 2012

A REVISTA ARCO & FLEXA

GILFRANCISCO: jornalista, professor universitário e membro do Instituo Histórico e Geográfico de Sergipe e do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e Diretor do Departamento de Imprensa da ASI;




A revista Arco & Flexa (1928-1929), mensário de cultura moderna: letras, artes, ciências e crítica, teve rápida duração. O periódico apresenta um formato de livro, medindo 23X16 cm, sendo a mancha de 16X11,5 cm., com indicação de página. Obedecendo ao espírito moderno, o periódico traz um material bem acabado e cuidadosamente elaborado por seu diretor, Pinto de Aguiar, cuja redação ficava em sua própria residência, Rua Santo Antônio, 104.
Seu primeiro número aparece em novembro de 1928, contendo sessenta e seis páginas; o número 2/3 (número duplo), dezembro, 1928, janeiro, 1929, setenta páginas e o último volume também duplo, 4/5, setenta e sete páginas, lançado neste mesmo ano, sem indicação do mês.  A revista era impressa pela Nova Gráfica da Bahia, e a escolha do título, Arco & Flexa, dava um caráter de nacionalismo brasileiro.
O grupo inicial era formado por Eurico Alves, Carvalho Filho, Hélio Simões e Pinto de Aguiar, que dirigia o periódico e realizava as reuniões em sua residência – Santo Antônio Além do Carmo. Também habitualmente se reuniam no Café das Meninas, onde se propunham o grupo a introduzir o modernismo na Bahia, sem, todavia, abandonar o passado que tinha no parnasianismo a sua linguagem poética dominante: “Na verdade a revista não refletia o que habitualmente se considera um grupo literário, uma vez que eram flagrantes as diferenças de cultura e de sensibilidade manifestadas pelos que nela colaboravam.”
Por exemplo, Carlos Chiacchio oriundo da Nova Cruzada, se colocará como crítico e teórico na revista Arco & Flexa, procurando acertar o passo com as inovações, tentando ligar-se a Festa, do Rio, e a Verde, de Cataguases-Minas. Mas a forte carga de uma tradição oprimia consideravelmente o próprio líder do grupo, que trouxe consigo antigos neo-cruzados como colaboradores: Arthur de Salles, Roberto Correia e Silva Campos.
Chiacchio foi um dos colaboradores da revista Festa, com o artigo “Modernistas e Ultramodernistas. A Reação Subjetivista Brasileira”, publicado anteriormente em 13 março  de 1928, no jornal A Tarde. O artigo se refere à “mentalidade baiana”, que se opõe a qualquer tipo de inovação, atitude que tem um aspecto positivo, que é o de preservar a tradição brasileira. Contudo o autor se queixa do silêncio da Bahia diante das inovações literárias, sobretudo as do Rio e de São Paulo. Refere-se elogiosamente do movimento realizado pelo grupo de Festa. Outros membros da revista Arco & Flexa, colaboram em Festa: Arthur de Salles, Carvalho Filho, Eugênio Gomes, Godofredo Filho e  Ramayana de Chevalier.
Carlos Chiacchio também aparece na revista Verde, nº 1 (segunda fase), número em homenagem ao poeta Ascânio Lopes (1907-1928), com o artigo “O Mal do Parnasianismo. Três Poetas” . É um estudo crítico dos livros de três poetas: Roberto Gil, do Rio, Verbo das Sombras; Ernesto de Albuquerque, de Pernambuco, Intermundios; e Rosário Fusco, de Minas, Fruta de Conde.
A revista Arco & Flexa traz em seu primeiro número um artigo manifesto, “tradicionismo dinâmico”, assinado por Carlos Chiacchio, que não significa a idéia do grupo, e sim de um dos componentes deste, orientador e patrono.  “Chiacchio tinha 50 anos por esta época, eu 17, Carvalho 20, éramos todos moços, fez-se, então, a liderança de Chiacchio. Foi uma coisa natural, espontânea.” O artigo propõe a renovação da literatura na Bahia, libertação das influências européias e lançamento da idéia do “tradicionismo dinâmico”. De qualquer forma estes propósitos serviram de ponto de partida, não só para os jovens integrantes de Arco & Flexa, bem como para eventuais colaboradores.  Vejamos um trecho do manifesto:

“Não há povos sem tradição. O próprio sentido de viver é uma tradição. Se viver é continuar, é permanecer é transmitir. A vida nacional de cada povo na vida universal de cada época. Quanto a nós, não sei como desconhecer uma tradição, uma vida, uma continuidade.  Belas, ou feias, boas ou más, tristes, ou alegres, as origens da nossa tradição, resultante somático de três raças unidas no momento em que cresciam para o desejo da mortalidade, não há que repudiá-las em nome de outras probabilidades de beleza, que podem existir, como existem, para outros povos, mas, para nós, não têm ‘préstimo, porque contrarias às leis do nosso desenvolvimento na história.  Sente-se que a resistência as inovação da cultura, nas sua várias modalidades, é um feito de nosso gênio, radicalmente misoneista. É um erro das elites do passado, que nós herdamos por interesses circunstanciais da conservação de prestígio a únicos, esses preconceitos contra as idéias novas, gerais, estranhas.”

Segundo o poeta Carvalho Filho, o grupo Arco & Flexa sofreu na sua concretização de idéias, fortes influências não somente de Carlos Chiacchio, tido como homem de grande cultura e amadurecimento literário, mas também de Eugênio Gomes, autor de Moema, publicado no primeiro semestre de 1928. Moema é um poema “claro, ventilado, azul, impregnado do melhor sentimento da tradição baiana. Captado, porém, a luz de ângulos novos de nossa realidade cultural. Um livro que integra a grande obra posterior – em sua maior parte de crítica e estudos literários – do nosso baianissímo Eugênio Gomes.”

O certo é que a Bahia ficou nos anos vinte muito prejudicada no que diz respeito a vida cultural e social, por causa da comunicação, que eram feitas por via marítima: livros, revistas e jornais, levaram mais de um mês para chegar do Rio de Janeiro e São Paulo. E tudo isso nos levam a acreditar o porquê da posição conservadora do grupo de Arco & Flexa. Pois o ambiente baiano não propiciava as inovações, bem como a revista tinha “propósitos independentes.”
Para sobrevivência do periódico mantinha a revista Arco & Flexa, vários anunciantes, de médicos, advogados, dentistas, livrarias e outros tipos de classificados, que de um número para outro da revista, aumentavam quantativamente, o que não se explicaria a sua súbita interrupção.
Outro fato importante é que o periódico mantinha um número considerado de assinantes. O que realmente teria acontecido? A revista não teria sido bem aceita pela comunidade intelectual na época? Existiu de fato cisões internas no grupo “modernista” ou teria realmente causado um escândalo o aparecimento da revista, por trazer propostas de equiparar a Bahia as idéias vigentes no Rio e São Paulo. A publicação de Arco & Flexa causou uma reação violentíssima, apesar da idéia do grupo em querer “... ir para adiante, mas sem renegar o passado”
A própria crítica do Sul do país, não só registra o seu aparecimento, como também escreve vários artigos analisando o movimento literário baiano, os quais são publicados na revista Arco & Flexa. Segundo Hélio Simões a revista dava prejuízo, “não se vendia nenhum exemplar e quando acabou o dinheiro, fechou-se a revista.”
 
A revista era financiada por Pinto de Aguiar, que mais tarde, nos anos quarenta, procurou desenvolver e difundir, através da editoração, a cultura baiana com a Livraria Progresso Editora, a qual durante o período de sua vigência publicou trabalhos importantes que até hoje ilustram as letras baianas.
Colaboraram na revista: Pinto de Aguiar (Medeiros de Albuquerque), Agripino de Alcântara, Pedro A. de Alcântara (Renato de Almeida), Francelino de Andrade, Eurico Alves, Raul Bopp (Osório Borba), Samuel Campelo, J. da Silva Campos, Carvalho Filho, Ramayana de Chevalier, Carlos Chiacchio, Rafaelina Chiacchio, Roberto Correia, Damasceno Filho, Erasmo Júnior, Hildeth Favilha, Cavalcanti Freitas, Godofredo Filho, Eugênio Gomes, Jaime Gryz, Francisco Hermano, Pinheiro de Lemos, Herman Lima (Sud Menucci), Jonatas Milhomens, José Queiroz Júnior, Arthur de Salles, Castelhar Sampaio, Hélio Simões, Lafaiete Spinola, J. Teles (Nestor Vitor).












Um comentário:

Anônimo disse...

o instituto sócio educacional solidariedade apoio o incentivo a leitura e ao conhecimento da cultura sergipana