Autor do romance O Atheneu que completou 125 anos de morto é a revelação da solidão de uma alma poética e angustiada, dentro de uma sociedade impossível e cruel. Republicano e abolicionista, Raul Pompéia pelo consenso da crítica e consagração do público, com este livro firmou-se como um dos maiores romances brasileiros, fugindo aos quadros do Naturalismo e do Realismo, tal como eram praticados entre nós, para inaugurar a prosa impressionista em nossa literatura. A Editora Cultrix acaba de reeditá-la numa belíssima edição, preparada pelo professor Francisco Maciel Silveira da USP, além do texto integral, com ilustrações do próprio autor.
***
Realismo que se confunde em vários aspectos com o Naturalismo designa toda tendência estética centrada no real, e suas origens situam-se na França pela segunda metade do século XIX. Os realistas preconizavam um enfoque objetivo do mundo, em oposição ao subjetivismo romântico e para tanto propunham substituir o sentimento pela razão ou pela inteligência, o egocentrismo romântico pelo universalismo científico e filosófico. O Realismo não foi apenas uma doutrina estética definida na França, com a pintura de Courbet e o romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert (1821-1880), tanto quanto o Classicismo e o Romantismo foi uma revolução cultural de amplo e profundo sentido. Esta se definiu antes de tudo, por uma atitude do homem por uma nova concepção densa realidade. Definidas as linhas da revolução no campo cultural e política, através de obras de pensamento e de ficção, ele se espalhou dominando os espíritos, em grande parte da Europa.
***
A partir da instalação da república, o romancista exerce cargos de confiança: Secretário e Professor de Mitologia da Escola de Belas Artes em 1891, Diretor do Diário Oficial e da Biblioteca Nacional em 1894. Com a morte do Marechal de Ferro no ano seguinte, foi exonerado do seu cargo no primeiro despacho do Presidente Prudente de Morais, em virtude de ter ele feito um discurso violento no cemitério São João Batista, quando foi inaugurado o mausoléu do Floriano Peixoto, no qual desacatou o Presidente da República. Esta atitude de Pompéia serviu de pretexto para que Luís Murat escrevesse o artigo Um louco no cemitério, onde insulta e condena a exoneração do escritor. Sua resposta esclarecendo sua posição sobre os acontecimentos é imediata, mas nenhum dos jornais em que colaborava quis publicá-la, emendo comprometimentos.
Devido às perseguições e calúnias sofridas, o escritor resolve por fim à vida aos trinta e dois anos, em 25 de dezembro de 1895, deixando uma nota encaminhada ao jornal A Notícia, onde se declarava ser um homem de honra, sepultando consigo as ardentes revoltas, anseios e inquietudes de um grande nacionalista.
O Ateneu começa no momento em que o jovem Sérgio, franqueia a porta do colégio e termina mais ou menos dois anos depois na contemplação do edifício, sendo devastado pelo incêndio. É neste castelo fantasmagônico ou colégio-fortaleza, onde todos os fatos se desenvolvem, com sua descrição minuciosa, e este desenlace, tal um fim violento de tragédia, é uma vingança e uma definitiva autodestruição do Ateneu. Publicado em 1888, são relatos sobre o meio em que o romancista viveu hostilizado e torturado, onde nunca se identificou com tais imposições e rebela-se expressando suas idéias com segurança e firmeza surpreendente. O Ateneu é a vida psicológica dos internos do Colégio Abílio, dirigido por Abílio César Borges – Barão de Macaúbas, especificamente uma vingança contra o seu internamento involuntário, contra os dirigentes da instituição, contra todo o processo educativo estabelecido, não só neste internato, mas referindo-se a sociedade conservadora brasileira.
Uma tragédia no Amazonas foi sua estréia em 1880, novela que segundo o crítico Capistrano de Abreu caracterizou como um romançalho, e mesmo assim colocou o autor ao lado de Aluísio de Azevedo. Este livro de sátira política imatura, mas refletida por um temperamento angustiado na busca de uma nova forma. Microscópios, 1881 reúnem os contos publicados na Comédia, de São Paulo. Ante da publicação do Ateneu, Raul Pompéia fez aparecer na Gazeta de Notícias em folhetim, de 30 de março a 1º de maio de 1882. As Jóias da Coroa, onde trata sobre as investigações policiais que acabaram trazendo à tona os segredos da alcova do Imperador D. Pedro II, o que concorreu para abalar seriamente a respeitabilidade do mesmo.
Após o romance que o consagrou, foram publicadas posteriormente em 1900 as Canções sem Metro, uma antologia de poemas em prosa, publicados em 1883 no Jornal do Comércio, de São Paulo, em que trabalhou amoravelmente desde 1881. No panorama lírico, as canções podem ser consideradas uma antecipação do Simbolismo brasileiro, oficialmente inaugurado em 1893 com Missal e Broquéis, de Cruz e Souza. Este seria sem dúvida o grande livro de Pompéia, sua obsessão, por isto foi burilada e retalhada várias vezes.
Portador de uma obra irregular, Raul Pompéia deixou um romance inacabado Agonia, e esparsos em jornais e revistas (contos, crônicas e notas literárias). Eloi Pontes, grande conhecedor da obra esparsa e inédita de Pompéia, diz ser ela opulentissima e variada, e que reunidos seus contos, darão quatro volumes no mínimo e suas crônicas que não perderam a atualidade, dariam cinco volumes selecionadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário