sábado, 27 de fevereiro de 2010

O MESTRE ACRÍSIO CRUZ

GILFRANCISCO: jornalista, professor da Faculdade São Luís de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. gilfrancisco.santos@gmail.com



“De Norte a Sul era um esforço gigantesco a desenvolver-se, e através de convênios diversos em todos os Estados, realizaram-se obras que constituíram uma sólida base física do sistema educacional brasileiro, além de outras tantas no sentido de formação pessoal docente capaz, relativamente, a diversos níveis de ensino.”

Acrísio Cruz


Acrísio Cruz, filho de Manoel Antônio da Cruz e Maria Leopoldina da Cruz, nasceu em Laranjeiras no dia 31 de outubro de 1906 e faleceu em 13 de setembro de 1969 na cidade de Aracaju. Tendo realizado os primeiros estudos em sua terra natal, estudando na escola Larajeirense, da professora Zizinha Guimarães, uma das mais afamadas do Estado, anos depois residindo em Aracaju, estudou no Colégio Tobias Barreto, dirigido pelo professor José de Alencar Cardoso, popular professor Zezinho. Aos 25 anos passou a dirigir o Grupo Escolar General Siqueira, um dos mais antigos de Aracaju, localizado à rua Itabaianinha, onde hoje está sediado a Polícia Militar, passando depois, para o Grupo Escolar Manoel Luiz, na Praça da Bandeira.
Jornalista, professor, parlamentar e escritor, atuou na vida pública em seu estado natal, com destaque para o campo educacional. Publicou estudos versados em psicologia educacional, livros didáticos, além de artigos e trabalhos acadêmicos, publicados em periódicos especializados, a exemplo das revistas: Neurobiologia, Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
O mestre Acrísio Cruz foi deputado estadual de 1951 a 1955, chefe do Departamento de Educação no governo de José Rollemberg Leite (1947-1951), quando implantou mais de 200 escolas rurais e grupos escolares, democratizando o acesso de crianças e jovens à escola. O projeto para construir Escolas Rurais na zona rural, consistia em uma única sala, multi seriada, residência da professora e pedaço de terra para o plantio de hortas e de pomar.
Comandou a então Escola Técnica, hoje Centro Federal de Educação Tecnológica de Sergipe, CEFET/SE. Como deputado Acrísio teve a oportunidade de servir, política e tecnicamente ao governo de Arnaldo Rollemberg Garcêz (1951-1955), inclusive como Secretário de Justiça, apesar de não ter conseguido se reeleger.
No centenário de nascimento de Acrísio Cruz houve várias homenagens: inauguração na Praça da Imprensa do busto de bronze, escultura do artista plástico Bené Santana; lançamento do livro Viagens de volta ao Engenho Maratá, romance inacabado, organizado por suas filhas Isabela Maria Cruz e Marta Vieira Cruz. Quando o professor Acrísio morreu, seu amigo e colega Manoel Cabral Machado (1916-2008), prestou singela homenagem com os artigos O estilista da linguagem ora I e II, publicados em 1969 e 1970, na imprensa local e republicados em 1999 no livro Brava Gente Sergipana:

"Se a morte do professor Acrísio Cruz causou, na vasta roda de seus amigos, uma pesada mágoa, trouxe-me mais uma sensação estranha do empobrecimento. Não era só o companheiro perdido e perdido inesperadamente, por mais que vagos receios teimassem por insinuar um desaparecimento próximo. Inquietava-me pelos gestos frágeis ou pela fisionomia fatigada e baça, apesar do otimismo estimulante dos seus médicos.
Vi, ainda, nessa morte, uma espécie de prejuízo público. Uma perda irreparável do patrimônio comunitário,sem que se pudesse salvar, ao menos, qualquer relíquia valiosa.
Do político, do educador e do intelectual, Sergipe esquecerá, em breve, o intelectual Acrísio Cruz. Lamentavelmente, por negligência, desinteresse ou falta de estímulo, não produzira a obra de arte que poderia escrever. Esgotou-se na dispersão de uma disponibilidade complacente aos ouvidos atentos que os escutavam ou na luta brava contra os que o agrediam, e mordiam a cruel hidrofobia provinciana. E por bastar-se de ouvintes, abandonou os leitores. E assim não compôs o romance de costumes que seria capaz de elaborar ou redigir as lembranças que deveria memoriar, notadamente as suas memórias dos outros."
Em 1. de outubro o jornalista Acrísio Cruz através de discurso, justifica uma moção de gratulação e apoio ao Presidente da República, Washington Luís, merecendo a unanime aprovação do Conselho Municipal de Aracaju, homologando as candidaturas à Presidência e vice Presidência da República, no próximo quatriênio, dos senhores Júlio Prestes e Vital Soares:

Sr. Presidente

Srs. membros deste Conselho:

Como representante do povo aracajuano nesta casa, deve dizer que a moção era submetida por mim à consideração de vós todos tem já a sua justificativa, evidenciada na admiração com que este município, acompanhado pelos demais do Estado, olha o governo altamente patriótico do dr. Washington Luís.
Na hora presente em que duas correntes políticas se manifestam na opinião nacional, duas correntes homogêneas, mas antagônicas, o povo brasileiro tem sabido com grande vigor cívico aplaudir a maneira porque se há conduzido o Presidente da República. E esse antagonismo, senhores, a que acabo de me referir, está patenteado, à vista da nação, no estendal de ameaças com que os sectários do liberalismo se recomendam à apreciação do Brasil.
Dezessete unidades da Federação Brasileira, o Distrito Federal e o grosso da imprensa nacional deliberaram, em momento tão feliz, levar aos postos de Presidente e vice-Presidente da República, respectivamente, os srs. Júlio Prestes de Albuquerque e Vital Henrique Baptista soares, no próximo pleito eleitoral de 1. de março. Essa iniciativa da família republicana foi inspirada nas realizações daqueles dois grandes homens públicos, o primeiro, dirigente dos destinos de São Paulo, e o segundo da Bahia. São dois brasileiros identificados de há muito com o nosso povo.
O talentoso deputado Humberto Olegário Duarte leader da maioria na Assembléia Legislativa do Estado, em vários artigos divulgados pela imprensa local, pois sob os olhos dos sergipanos os feitos e a educação política daqueles dois grandes cidadãos, que prometem ao Brasil uma época de prosperidade e de segurança econômica.
Não faz muito tempo, o dr. Washington Luís, na Associação Comercial do Rio de Janeiro, deu mais uma prova da elevação de seu espírito aos liberais que a todo instante ameaçam ensanguentar o sólo da Pátria.
Foram as seguintes as palavras de sua excelência: Podeis estar tranquilos senhores, porque a propaganda eleitoral decorrerá num ambiente de segurança de calma e liberdade. A rigor o momento é de júbilo nacional, porque vem mostrar que o Brasil progrediu bastante, que já é uma Nação consciente de si mesma,que confia, que tem opinião e tem vitalidade.
São as manifestações e os atos do dr. Washington Luís que o impõem ao conceito do povo brasileiro.
Ninguém desconhece mais que o Governo de sua excelência tem determinado ao Brasil um período de completa paz, um período em que resurtem empreendimentos e realizações extraordinárias, um período em que o nosso país, adolescente ainda está observando e realizando as iniciativas dos povos mais velhos, um período, enfim de respiração, sucedido aos tempos conturbados do quadriênio passado.
No mesmo discurso, aludido linhas acima, sua excelência disse mais: " a 31 de dezembro do primeiro ano do meu Governo, só permaneciam nas prisões aqueles que, sub judice, tinham sua causa pendente do veredictum da Justiça, sobre a qual, como sabeis, não pode ter ação o Poder Executivo"
Por tudo isso sente-se que se não podia absolutamente desejar um Governo melhor do que o sr, dr, Washington Luís, de quem podemos dizer, - um Governo do povo pelo povo.
A lavoura e a indústria têm sido incentivadas de modo considerável, o ensino superior rigorosamente cuidado todos os esforços convergem para a integralização da nossa estabilidade financeira, e se desenvolvem também para a certeza de um futuro grandioso, que poderá ser avaliado desde já pelas possibilidades que nos reserva esta imensidade territorial do Brasil, enquanto os seus destinos forem confiá-los à sensatez e ao verdadeiro patriotismo de seus filhos.
É chegado o memento do município de Aracaju, cuja administração está entregue à honradez e à infatigabilidade do sr. Theophilo Dantas, se preparar, afim de entrar na liça, onde a vontade popular brasileira vai eleger o cidadão que há de governar o País no quadriênio de 1930 a 1934.
Em que pensem a honradez e a operosidade do dr. Júlio Prestes, temos a observar e a levar consideração a última Mensagem do insigne estadista de S. Paulo, que é um transunto de administração ousada de empreendimentos gigantescos e de moralidade política.
O Brasil tudo espera do esforço, do talento e do tino político-administrativo do Presidente paulista. Ele assegurar a esta grande nação a continuidade do progresso, da paz e de maior moralização possível na verdadeira prática do regime.
Os fatos aduzidos nesta minha oração, e em todos os órgãos da imprensa local, ademais, a vossa admiração claramente manifesta à sua excelência sr. Presidente Washington Luís, bastarão para que eu consiga facilmente seja aprovada a moção que vos acabo de apresentar.
E esse dever nosso, no que tange à questão política do momento, é também de Sergipe, presentemente entregue às mãos honradas do preclaro Presidente Manoel Dantas, que apóia com intransigência as candidaturas nacionais.
Voltando a falar sobre a personalidade do Chefe da Nação e sobre o modo pelo qual s. ex. está se desobrigando da sua alta missão, em face da atitude liberal, devo dizer mais uma vez que o Brasil tem justas razões em render culto ao seu patriotismo.
Representantes que somos, senhores, deste município - uma célula bem desenvolvida da nossa organização administrativa, temos também a obrigação moral de apoiar entusiasticamente o Governo do Presidente Washington, que está se desenvolvendo num ambiente de liberdade civil e de liberdade política.

(Diário Oficial do Estado de Sergipe, 4 de outubro, 1929)

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