terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O REBELDE WALTER DA SILVEIRA (1915-1970)

GILFRANCISCO: Jornalista, professor da Faculdade São Luís de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. gilfrancisco.santos@gmail.com


O escritor e cineasta sergipano de Boquim, José Umberto Dias (1949), autor do romance Dadá (1988), Desconhece-te (2000), teatro, diretor de vários documentários e do longa metragem O Anjo Negro (1972), acaba de publicar Walter da Silveira – o eterno e o efêmero, pela Secretaria da Fazenda/Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia/Oiti Editora e Produções Culturais. A obra em homenagem ao jornalista baiano, totaliza 1514 páginas, distribuídas em quatros volumosos tomos: O 1. reúne a crítica cinematográfica de Walter publicada em vários periódicos (1928/1955), alguns como Revista Seiva, Caderno da Bahia, Diário de Notícias, Leitura, O Momento, Diário da Tarde, Diário da Bahia, Revista Recôncavo, A Tarde, O Imparcial e outros. O volume 2 traz crítica cinematográfica publicadas entre (1957/1967), o 3. volume (1935/1970), apresenta crítica cinematográfica nacional, internacional e crítica literária. O último volume (1939/1970 traz crítica sobre as artes plásticas, política, economia, homenagens e correspondência. Walter da Silveira foi um crítico militante, que colaborou em mais de três dezenas de periódicos.

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Filho de dona Elvira Raulina da Silveira e Ariston Augusto Corte Imperial da Silveira, juntos tiveram seis filhos. Nascido a 22 de julho de 1915 em Salvador, diplomado pela Faculdade de Direito da Bahia em 1935, foi advogado dos operários e favelados, professor, crítico, ensaísta, pesquisador, cineclubista, um dos mais lúcidos e ativos dos teóricos do cinema. Walter da Silveira produziu seu primeiro artigo sobre cinema aos vinte anos de idade, no jornal da Associação Universitária da Bahia, sob o título O Novo Sentido da Arte de Chaplin, numa reflexão crítica a respeito do filme Tempos Modernos.
Walter Raulino da Silveira, mais do que um crítico, foi um grande ensaísta, com várias obras publicadas sobre cinema, o criador e grande animador do Clube de Cinema da Bahia, fundado em 1950, conseguiu programar, durante longos anos, as sessões matinais as 10 horas de cada sábado, no cinema Guarany (hoje Glauber Rocha) de filmes eruditos e de validade artística obtidos por seu prestigio nas mais longínquas e diversas cinematecas. Walter consegue do exibidor Francisco Pithon, um espaço para exibir a um público composto de universitários, intelectuais, estudantes secundaristas, as obras-primas de um cinema que atinge, nesta época, a plena maturidade de sua linguagem.
Engravatado e de terno escuro mesmo nas manhãs ensolaradas do verão baiano, antes de cada projeção ele costumava fazer uma preleção didática sobre o filme, na disciplina de um professor. Segundo depoimentos abalizados, era uma figura de destaque nos congressos do cinema brasileiro, um grande defensor de nossa cinematografia e o mestre de toda uma geração, que integrava Glauber Rocha, Guido Araújo e Paulo Gil Soares, dentre outros.
Desde cedo filiado ao Partidão de Prestes, Walter da Silveira, jamais se deixou levar pelo sectarismo nos terrenos da arte. Isto talvez tenha sido o seu segredo para tornar o Clube de Cinema da Bahia, uma agremiação cultural capaz de receber o total apoio dos meios cinematográficos da metrópole. Sem dúvida, Walter foi personagem central do movimento de cultura cinematográfica da Bahia, devendo-se a ele, além da fundação do CCB, a Associação de Críticos e a formação de novos quadros, bem como tendo iniciado um trabalho de pesquisa histórica regional que abriu novos horizontes para os estudos a respeito do cinema do Brasil.
Segundo o critico Paulo Emílio Sales Gomes, em artigo publicado em 24 de março de 1962, no Suplemento Literário d'O Estado de São Paulo, Walter da Silveira “teve discípulos simultaneamente negadores e criadores, isto é, aqueles que, se insurgindo contra as lições, na verdade prolongam a obra do professor. É dessa didática harmoniosa e vivificante que surge Glauber Rocha, nascido do Cineclubismo para a crítica e daí para a realização. As etapas foram percorridas através de constante rebeldia. Um clube de cinema destina-se tradicionalmente a formar espectadores e Glauber nunca se sentiu como a unidade de um público”.
Juridicamente falando, Walter da Silveira foi um grande advogado, defensor dos pobres e humanistas, na área trabalhista, foi na sua época o mais conceituado, tanto pela sua honestidade como pela sua eficiência e pelo seu caráter, um exemplo para as novas gerações. Destacou-se também como advogado sindicalista, defensor dos menos favorecidos. Começou sua vida como Juiz, deixando inclusive um livro “A importância de ser juiz”. Clarival do Prado Valadares, um dos seus companheiros na década de trinta, naquela juventude de intensa atividade intelectual, que se fazia após o jantar, até o horário do último bonde e que para muitos parecia vida de boêmios, disse que “ sua lembrança de homem de saber e de generosidade facilita o meu empenho em aponta-lo como fator decisivo na formação dos jovens cineastas baianos que tanto alcançaram o prestigio do Brasil artístico, em todo o mundo”. Walter da Silveira é um nome que deve ser rememorado por vários outros aspectos de sua personalidade. Situa-se entre os pioneiros desta complexa e moderna área do conhecimento humanístico que é a teorética do cinema, a crítica de fundamento estético e ético aplicada ao mais poderoso instrumento e ao mais amplo território da comunicação.
Ao lado de José Valadares, prepararam os estatutos, regulamentos, normas e programas para os vários Salões de Arte, premiações e inclusive no projeto de organização do Museu de Arte Moderna, por solicitação dos governos baianos de 1951 a 1958. Participou ativamente da vida intelectual e política da Bahia, tendo sido deputado estadual no ano de 1959 e vereador. Homem íntegro e amigo, contribuiu decisivamente para o florescimento do cinema baiano. Seu amigo e companheiro de tertúlia da “Academia dos Rebeldes” (1929/1931), Jorge Amado disse que ele foi “um grande ensaísta de cinema pela seriedade de conhecimento, pela decência de sua profissão feita de amor, pela criação do homem no plano da cinematografia, por seu livre pensamento, pela intransigência dos seus pontos de vista que são, ao mesmo tempo, resultado de uma visão maleável e flexível contendo uma realidade de experiência vivida”.
Portanto sem sair da província, Walter da Silveira conquistou respeito e admiração além dos limites nacionais. O golpe militar de 64 leva Walter à época advogado do Sindicato dos Bancários, já então sob a intervenção - a um processo de profunda depressão. Membro da Academia de Letras da Bahia, eleito em 1966, foi saudado por José Luiz de carvalho, faleceu em 5 de novembro de 1970, aos cinqüenta e cinco anos de idade, vitimado por um câncer, abrindo uma vaga na cadeira nº 13, cujo patrono foi o poeta Péthion de Villar, pseudônimo de Egas Moniz de Aragão. O acadêmico deixou esposa e sete filhos. Colaborou no Caderno da Bahia, Seiva,
Autor de inúmeros artigos sobre cinema e estética, exerceu com mestria a crítica cinematográfica em quase todos os jornais de Salvador, em periódicos do Sul do país e exterior, contribuindo decisivamente para o florescimento do cinema baiano. Faleceu em Salvador, a 5 de novembro de 1970, vitimado por um câncer, abrindo uma vaga na cadeira número 13 da Academia de Letras da Bahia.

Obra Publicadas:

A Importância de Ser Juiz. 1960.
Fronteiras do Cinema. Rio, Tempo Brasileiro, 1966 (texto: Jorge Amado)
Imagem e Roteiro de Charles Chaplin. Salvador, Mensageiro da Fé, 1970.
História do Cinema Vista da Província. Salvador, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1978. (Org. José Umberto Dias - Textos: Guido Araújo e Jonicael Cedraz)
Walter da Silveira - O Eterno e Efêmero (Org. e notas José Umberto Dias), 2006

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Os 70 Anos de Leonardo Alencar

GILFRANCISCO: Jornalista, professor da Faculdade São Luís de França e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
gilfrancisco.santos@gmail.com


Leonardo Alencar é um artista que produz arte da melhor qualidade técnica. Além de ter realizado várias exposições individuais, possui trabalhos em diversas instituições do Estado e telas espalhadas pelo mundo. Esse ano, completará 70 de existência e em abril estará expondo suas obras na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, além de folhinha, agenda e calendário publicados pela Segrase,- Serviços Gráficos de Sergipe, uma amostra significativa do artista nesses 50 anos de trabalho que passaram a enriquecer cada vez mais a memória nacional.
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Nascido em Estância a 7 de abril de 1940, filho de Eurydice Fontes de Alencar e Clodoaldo de Alencar (1903-1977), poeta e membro da Academia Sergipana de Letras. Seu interesse pela pintura nasceu da admiração pela obra de Jordão de Oliveira (1900-1980), que em 1959 promoveria sua primeira exposição no Rio de Janeiro. Para incentivá-lo, Jordão levou várias figuras das artes plásticas brasileira para visitá-la, entre elas Oswaldo Goeldi, que elogiou principalmente seus desenhos. Muito ele deve a J. Inácio e aos irmãos Álvaro e Florival Santos, que na década de 40/50 chamavam a atenção com telas impressionistas (em arte, tendência geral a transmitir as impressões fugazes e a mobilidade dos fenômenos, mais do que o aspectos estável e conceitual das coisas) e abstracionistas (tendência natural do homem a dar às abstrações um valor real, igual ao das realidades concretas).

Envolvido com o movimento cultural sergipano desde cedo, foi membro da Arcádia Literária do Colégio Atheneu Sergipense. Na década de 60, foi convidado por Jenner Augusto (1924-2003), para ajudá-lo na pintura do painel que retrata a "Chegada da Família Real no Brasil", no restaurante do Hotel Pálace de Aracaju, removido para o Teatro Atheneu. Orientado na pintura pelo mestre Florival Santos, antes de viajar para Salvador, Leonardo Alencar foi discotecário da Rádio Cultura de Sergipe, onde produziu e preparou textos para o rádioteatro: O Diário de Anne Frank e A Guerra dos Mundos, do norte americano Orson Welles. Em Salvador, para complementar as despesas do estudo, trabalhava como vitrinista de várias lojas da Baixa do Sapateiro. Mais tarde como caricaturista do jornal A Tarde e ilustrador do Jornal da Bahia, além de colaborar como desenhista no jornal comunista, Novos Rumos.

Chegando a Salvador em 1961, participa de vários cursos na Escola de Belas Artes, entre eles o de gravura e na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, cursa cenografia, logo depois foi levado pelo conterrâneo Nélson de Araújo e passou a ser professor de artes visuais na Escola de Teatro da UFBA e um dos organizadores da 1ª. Bienal Nacional de Artes Plástica na Bahia, em 1966. Pertencente ao séquito do romancista Jorge Amado, Leonardo Alencar passou a conviver com os sergipanos, Jenner Augusto e Zé De Dome e os baianos, Calasans Neto, Sante Scaldaferri, Mário Cravo, Carlos Bastos, Kennedy, Raimundo Oliveira, Lênio Braga, Genaro de Carvalho, Ângelo Roberto, Emanuel Araújo, Mirabeau Sampaio e os radicados baianos, Floriano Teixeira, Caribé e Hansen Bahia.
Na década de 60 participa ativamente da vida intelectual baiana, realizando várias exposições e novos trabalhos, como a decoração do Thom Bar, em 1966, que ficava na Rua Chile no coração da velha metrópole colonial. O espaço, misto de bar-restaurante, de casa noturna, de salão de exposição visual e palco de espetáculo artístico. Entrevistado na época, Leonardo diz: "Independentemente da pintura, às vezes, atendo solicitações de amigos, faço uma espécie de decoração integrada, como fiz recentemente para o Thom Bar, baseada em elementos góticos, ou seja, uma tentativa de aliar elementos a uma decoração de vanguarda". Leonardo é "pintor de todas as coisas deste mundo, extraordinário fixador de imagens, da natureza e da realidade do mundo corpóreo, como um verdadeiro humanista", afirma o crítico de arte Carlos Eduardo da Rocha.

Ainda nos anos 60/70, Leonardo esteve presente nos fins de tardes no Bar Cacique, assistindo o por do sol adormecer na Baía de Todos os Santos, ou nas grandes noitadas entre os pintores da confraria da boate "Anjo Azul", situada no início da estreita Rua do Cabeça a caminho do Largo 2 de Julho, a poucos passos do casarão de Carlos Bastos. O Anjo Azul era um paraíso todo decorado por Carlos Bastos, um lugar apertado, onde se reuniam os gays mais snobs, intelectuais e artistas, para tomar "xixi de anjo" que era servido em piniquinhos de barro.

Sua primeira fase pode afirmar que é o expressionismo, período em que transpôs para a tela as dunas das praias sergipanas e baianas. Somente mais tarde privilegia o traço, as cores puras, a paisagem e a libertação emocional, passando a retratar os símbolos cristãos como o peixe, as aves, os felinos e os motivos da vida diária. Suas obras (aquarelas, desenhos em bico de pena e acrílica sobre tela), famosas e estilizadas por arlequins (indivíduo irresponsável, provocador, valentão, fanfarrão, brigão); colombinas (figura participante de um triângulo amoroso) e pierrôs (personagem da comédia italiana, cuja feição é ingênua e sentimental): o arlequim não existe sem o pierrô: o pierrô não existe sem o arlequim, e ambos não existem sem a colombina. Por isso todos estão sempre presentes em suas telas, é algo transcendental.

Quando, ingressei, no segundo semestre de 1971 no curso de desenho da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, tive como professores Riolan Coutinho (irmão do cientista Elsimar Coutinho), Manoel Bonfim (Ogan do Candomblé de Mãe Menininha), Luiz Gonzaga (vencedor dos concursos carnavalescos), Juarez Paraíso, renomado artista plástico (na época casado com Edsoleda Santos), Mário Mendonça (arquiteto) e Ivo Velame (diretor da Escola, casado com Malba, filha do poeta Mário Cabral). Na Escola, reencontrei velhos colegas do tempo do Instituto Central de Educação Isaias Alves - ICEIA, como o renomado estilista Ney Galvão (1952-1991), morto prematuramente aos 39 anos no auge da carreira, e meu professor de desenho industrial, no Centro Integrado Luiz Tarquínio, o peruano Ruan Bautista Antonioli Levano, atualmente residindo nesta cidade.

Via sempre Leonardo almoçando nas cantinas do casal Olegário/dona Cotinha na Escola de Teatro e em Belas Artes na cantina de dona Hildete Cantalino ou entrando e saindo apressadamente dos barracões de aula, mas nunca cumprimentei, muito embora já tivesse conversado a seu respeito com Nélson de Araújo. Nossa amizade começaria anos depois, por simples coincidência, num dos encontros domingueiros em Itapoã, na casa do poetinha Vinícius de Moraes e sua companheira a atriz baiana Gessy Gesse.

Foi uma tarde memorável, regada a música, conversas sem pauta, muitas doses de whisk, variadas batidas de Deolino e algumas tragadas de mariruana, sem falar na moqueca de vermelha, com azeite dendê, molho de pimenta e a moqueca retada de siri, feita com a receita de Floripedes aquela mulher de Vadinho, personagem de Dona Flor e seus dois maridos, romance de Jorge Amado. Presentes Sante Scaldaferri, Caribé, Calá, Solon Barreto, o percussionista de alguns terreiros de candomblé e músico de Caetano Veloso, Djalma Correa, que dirigia um velho buggy para o poetinha, alguns convidados do Rio e o poeta criador do ijêxá, Ildásio Tavares, que insistia para continuarmos a farra em sua residência, uma quadra depois de onde estávamos. Foi neste ambiente etílico que o mago Leonardo Alencar surgiu para mim, falando pouco e bebendo muito, revés de Ildásio Tavares que não bebia por tomar medicamentos controlados, falava excessivamente, esbravejava, agredia, ridicularizava todos, com epigramas fesceninos, era seu jeito incômodo. Mas Vinícius adorava-o, passava a mão pela cabeça, pois havia gravado com Toquinho e Maria Creusa um dos seus maiores sucesso, "Catendê", no Lp Eu sei que sou te amar, 1972.

Em 1971 Leonardo Alencar recebeu uma bolsa para atuar na Europa como artista, e fixa residência em Londres, desenha para a revista Time Out. Em 1974 retornou ao Brasil, passando a residir em Salvador até a década de 80, quando voltou à Aracaju. Este estanciano que chega aos setenta anos, astronauta de vidro que vive no espaço, cuja luminosidade se expande em cores, qual pássaros docemente pousados, pinta como se não existisse o tempo, um tempo que se organiza em torno do presente. Residindo em Aracaju desde 1998 fui guiado pelo jornalista Paulo Afonso Cardoso da Silva, para reencontrá-lo e chorar todas as minhas mágoas, por ele ter abandonado a Bahia. Houve um tempo em que passávamos os fins de tardes no Boi Gordo, com Alfredo Mallet, Chico Queiroga, Antonio Rogério, Cida, Fátima, em prosa e riso. Recentemente reaproximamos para realizarmos o projeto editoria “Lampião no Noticiário Oficial”, que lhe coube a empreitada da capa e ilustrações do livro. Ultimamente são esporádicos nossos encontros, mas já foram assíduos. Hoje é possível encontrá-lo na Aruana, no Atelier 22, do amigo aquarelista, Alfredo Mallet, um cantinho para saborear bons petiscos.

Pintor de copiosa produção e imaginação prodigiosa, tudo isso resultou um estilo de viver, melhor, uma específica forma de aproximação com o mundo. Sua arte é de berço, o que lhe confere, sem favor, a dignidade plena de mestre da pintura, dono de um talento e uma técnica invulgar. Leonardo, falar do que se ama é falar sobre si mesmo. Suas magníficas pinturas são de um refinamento, de uma lenta elaboração, de um requinte assegurado através de uma simplicidade. Há em sua pintura um mundo de silêncio, onde o sofrimento é uma sombra que é preciso exorcizar. É uma pintura luminosa e iluminadora da visão contemporânea, capta a grandeza do mundo cotidiano e dela extrai a beleza límpida e despojada com suas aquarelas, cuja estrutura íntima e, ao mesmo tempo, mais vibrante de vida, de intensidade e movimento, demonstra o seu maior segmento, sua visão do mundo que é de alegria e esperança. A simbologia é um desdobramento de uma temática recorrente em sua pintura, que incorporam as soluções plásticas do expressionismo e do impressionismo, somadas à temática social muito participante.

Nacionalmente conhecido e proclamado, Leonardo está vivendo um dos momentos mais felizes da sua carreira, desde que saiu da Bahia, onde plantou raízes profundas, para passar a diante, subir mais um degrau e confirmar seu fabuloso poder de comunicação e a sua humanidade da alma de cada paisagem. Leonardo Alencar é, hoje, incontestavelmente, um mestre da pintura, o maior entre os vivos sergipanos, pelo que sua obra representa para as artes plásticas brasileira. Assim é que Leonardo convoca seu espectador, para que entre em seu mundo e ajude a recriá-lo, recobrindo figura e paisagem, num ritmo de paz que joga com sua prancha frágil, desprotegida, com seus instrumentos de trabalho.

Nos anos 90 participou de exposições no Museu de Arte de Brasília, em Rhode-Island, Estados Unidos, e na Assembléia Legislativa, em Aracaju. Pertencente a Confraria dos Bibliófilos do Brasil desde 2003, associação cujo objetivo é congregar pessoas que gostassem de livros, passou a publicar edições especiais, e Leonardo Alencar está presente em duas destas. Ilustrou (bico de pena) o livro do escritor mineiro Galinha Cega, Mansinho e Outros Bichos, de João Alphonsus e Três Novelas da Masmorra, de Otávio de Farias, ilustrando com duas dezenas de fantásticas xilogravuras.

Em 2006 o acadêmico e professor da Universidade Federal de Sergipe-UFS, José Anderson do Nascimento, publica o livro-catálogo Metáfora dos Arlequins, as cores na arte de Leonardo Alencar, patrocinado pela Unimed. Segundo o autor, o livro foi concebido para atender todos os seguimentos e com interesse na cultura em geral, o trabalho é centrado exatamente na visão metafórica da pintura de Leonardo Alencar. O destaque é na fase mais atual do artista plástico onde ele trabalha com a temática da comédia na arte italiana, os nacionalmente carnavalescos Pierrôs, que guarda um amor platônico por Colombina, que por sua vez inebria com carnal de Arlequim. Em outubro de 2009, realizou mais uma exposição de sucesso durante o Congresso Nacional de Estudos Jurídicos – Direito Civil e Processo Civil, quando ocorreu o lançamento da Revista Técnico-Jurídica da PGE,( Procuradoria-Geral do Estado) Vol. VII, tendo como capa a reprodução de uma de suas telas.